E depois de quatro meses, nos quais vocês se falaram diariamente e se encontraram pelo menos duas vezes por semana, ele some. Sim, some por seis dias. Tá… ele não está completamente sumido há seis dias, sejamos justas, porque antes de anteontem ele te deu um ‘oizinho’ meio sem graça no MSN e ontem ele te mandou um email. Mas você estava muito puta pra responder direito. Você foi fria na primeira investida, sarcástica na segunda e, oh, glória!, se congratulou por isto.
**************************************************
Há seis dias ele te escreveu explicando que estava muito mal – “estou uma mala”, foi esta a expressão – e te pediu um tempo pra melhorar. Você respondeu com um ‘tudo bem, qualquer coisa me liga’.
Mas ele não ligou.
Ele não ligou… e você ficou com raiva. A raiva vem antes de tudo. A raiva fez você prometer que não vai ligar pra ele. E tem seis dias que você cumpre a promessa, mas a que custo, hein! Porque a raiva foi logo embora e veio a saudade pra tomar conta de você.
Ai, a saudade… ela está sempre justificando as ações dele, não é? E, quando a saudade finalmente convence você a pegar o telefone e mandar às favas qualquer promessa, volta a raiva pra lembrar que você tem que ter orgulho, amor próprio. E a raiva é braba, bota a saudade pra correr aos gritos de que somos mesmo umas molóides, umas bestas, umas coração-de-manteiga.
Só que a raiva também é muito ocupada. Ela não pode ficar aqui do teu lado o tempo todo, pois tem outras coisas pra fazer, outras pessoas pra envenenar e, de novo, vai embora. Ahá! Era isso que a saudade queria! A saudade fica ali, de tocaia, só esperando a raiva dar as costas. Daí, no mesmo segundo, a saudade começa sua cantilena: “ele disse que não estava bem”, “orgulho não vale a pena”, “mas você está sofrendo, de que adianta?”… e por aí vai. Ai, cacete!
Estaria bom se a briga fosse só entre a raiva e a saudade. Mas você não pode se esquecer da tristeza. A tristeza está aí, firme e forte, desde o momento em que você leu aquela bosta de email, aquele de seis dias atrás, pela primeira vez. Sim, sim, primeira vez, porque a gente sabe que você leu aquele email váááárias vezes, não foi? O email dele e a resposta que você deu. É… a gente sabe… pra que mentir agora? Você leu até decorar, a gente sabe. Você tem repetido de cor o que dizia o email dele e a resposta que você deu pra qualquer amiga que te pergunte – pras que não te perguntam também, reconheçamos – há seis dias. Tem seis dias que você só fala disso. “Monotemática”, eis teu nome do meio!
Você quer se livrar da tristeza. Mas a bicha é renitente. Ela não é frouxa como a saudade que, a qualquer gritinho da raiva, sai correndo. A tristeza fica ali, olhando pra raiva e pra saudade, tão patéticas. E olhando pra você. A tristeza vai contigo pro banho e faz você confundir água de chuveiro com lágrima. A tristeza deita contigo e mexe no seu cabelo até você pegar no sono, dizendo pra você se acostumar com a idéia de que, de verdade, ele viu que você não vale a pena. A tristeza te faz escrever alguns emails que você não vai mandar, porque, afinal, tem o raio da promessa que você fez pra raiva blábláblá… não vamos falar disso de novo, por favor.
Bom… a quem você vai ouvir? À raiva, à saudade, à tristeza? Você não sabe. Você está confusa. Confusa…
Pra piorar tudo, mais uma voz começa a dar seus pitacos, a princípio de forma tímida, mas agora de maneira mais forte e audaciosa do que todas as outras. É a voz do seu desejo. Seu desejo. Tão impaciente, tão imediatista, tão mimado. Quer tudo pra ontem. Melhor, quer tudo pra seis dias atrás! Ah, desejo… não faz isso, não… é muita sacanagem…