Volta e meia a gente lê textos sobre como o ato de bloggar é uma coisa umbiguista. Sim, o blogueiro, em essência, ama seu dia-a-dia, suas opiniões, sua maneira de ver o mundo e, por isso, posta. E fica todo vaidoso quando o povo deixa comentário, qualquer que seja, porque, afinal, alguém deu atenção pra aquilo tudo que está ali.
Mas, essa vaidade do blogueiro não pode ser considerada invasiva. Ninguém é obrigado a ler blog. Ninguém pode coagir o outro a ler blog. Então, se você está lendo o que um blogueiro tem a dizer sobre determinado assunto, concordando ou não com ele, achando que o sujeito é uma besta ou uma sumidade no tema, detestando tudo ou adorando, não importa, você está fazendo isso porque quer.
Bom seria se todos os adoradores-de-seu-próprio-umbigo se manifestassem apenas em blogs. Que fossem pessoas bem “normais” no convívio diário, soltando a franga somente diante da telinha do PC. Porque, sinceramente, não tem troço mais chato do que aturar os que acham que a coisa mais interessante do mundo é a sua própria existência. Caraca!
Todo dia, para ir trabalhar, pego a Rodovia Presidente Dutra, quarenta minutos pra ir, quarenta minutos pra voltar. E quase todo santo dia dou carona para uma colega. No carro somos três: meu chefe, a colega e eu. Bem, são oitenta minutos diários ouvindo a tal colega falar de sua própria vida.
Na ida, ela conta sobre sua vida doméstica e sexual (sim, porque a vida sexual dela nos interessa muitíssimo!): a gente fica sabendo se ela transou ou não com o marido na noite anterior; sabemos, também, que sua empregada, que está grávida de três meses, teve enjôo (ou não) de manhã e quais são as tarefas escolares que seu filho de dez anos ficou fazendo em casa. Na volta, ela tece o relatório de como foi seu dia de trabalho, quantas pessoas ela atendeu, quais conversas ela teve com seus colegas de sala.
É impossível mudar de assunto, impossível! Mesmo porque nem eu e nem meu chefe somos grandes faladores, não somos páreo pra ela. A sujeita, além de se achar o centro do universo, fala que nem pobre na chuva. Um horror! Pra piorar tudo, a dita ainda tem um problema de dicção que a faz chiar a cada sílaba. Parece uma panela de pressão!
Que coisa… a gente já tentou de tudo. É claro que não vamos deixar de dar carona pra moça porque, afinal, é muita sacanagem deixar a bicha vir de ônibus. Mas, que é bem irritante, tem hora, ah, isso é! Agora, pra ficar um pouco de fora daquele umbigo, corro pra chegar ao banco de trás do carro antes que ela. Venho mais sossegadinha e deixo o pepino pra chefito aturar. Aí, ela vai contente, falando sem parar no ouvido do pobrezinho. Hehehehe… e eu… bem, tem dia que até durmo.